11 março, 2018

(Memória de) Regresso.

Quero-te nos detalhes:
Deslindar-te nos traços, encontrar-te nos vales,
Respirar no teu infinito,
Em cada poro ser grito, que submerge na tua voz,
Vir,
Ser por nós.
Saborear-te a vida,
Enquanto a trago desmedida,
À superfície dos teus sentidos,
Acesos, revividos,
Na minha pele, tua seara,
Casa serva do teu cheiro,
Prisioneiro, ancorado nos meus sonhos,
E resgatado, incólume, nesse último dia:
Em que da memória não restará mais que a melancolia,
Branda, solene, brisa quente,
Sombra cadente dos dias em que floresci em ti.
Onda presa à liberdade do ser inútil,
Num tempo sem verdade que se demora,
Guia da hora sem termo,
Esse demónio insuspeito,
De onde não te saberei ver,
Perdida do direito de te escrever,
Eu, ruína, labirinto,
Mas instinto,
Do meu fora de mim saberei encontrar-te:
Nos detalhes imaculados,
Decalcados, prosas vivas,
Nos versos que me deste,
Nas asas já deformadas,
Leves, por abrir.
E através das palavras descuidadas
Dos dias em que serei outro alguém
Que ninguém saberá quem,
Enquanto canto sobre o que já não conheço,
Do meu avesso,
Olharei para ti,
Enquanto tropeço,
No que estará para vir.

Viagem.

Percorro-te.
Do teu peito, atravesso a distância que fica dos dias cinzentos,
Enquanto lavro o peso amargo dos pensamentos, já livres de tempo,
Que sopro e embalo para adormecer,
Pousando-os esquecidos no horizonte dos teus ombros,
De onde a dor imaginada, submissa, calada,
Regressa doce e desnecessária,
E se desfaz devagar entre os meus dedos peregrinos, cansados,
Loucos perdidos que no teu corpo,
São sede que procura e se adivinha entre os sonhos desenhados,
Escritos na meia lua que carregas nos braços,
Onde te escondes e esperas.
E eu sinto-te.
Do teu pescoço reergo-me num forte,
De onde posso também eu ser mar,
E nessa ousadia que me acalma,
Porque sou livre, deixo-me ficar.
Troco o silêncio do mundo pelo teu compasso,
Próximo, tão próximo,
Que determinado entra pelo meu peito resgatado,
E faz morada no calor do meu sangue, prece,
Que se aquece no encontro com a tua pele,
Onde é sempre primavera,
Onde nada se perde,
E onde eu moro. E me demoro.
Como quem pertence, porque se sente,
Enfim, em casa. 

09 setembro, 2017

Ensaio.

Trazes nas mãos a pergunta que anseio responder.
Cheiras à doçura dos acasos destinados, salgados, que em cada maré de lua, nua, na tua pele se reinventa, cada poro, cada chama violenta, que pulsa entre os pensamentos magoados, alimentados nos trilhos ensanguentados, em que sozinho, te julgas ter transformado.
Sai, expande, revolve e flui. Dança comigo no silêncio, à média luz da tua, da nossa voz, tão em nós, onde em desatino nos desafiamos e desvendamos, à procura da certeza entre o perigo, num instinto desferido, que se incendeia nessa explosão clandestina, que não quero abraçar sozinha, e que culmina, com a tua, com a minha liberdade.
Minha viagem. Porque és espaço, és claridade, nesse enlaço que nos envolve, és criação, revolução, és o avesso de um retrato amedrontado, à beira do medo estagnado, que nas tréguas se achou deslumbrado, pelos olhos de quem ainda ousa ver, saber. Sentir.
Meu menino perdido, que se julga esquecido de como voar: sê criança, sê esperança e deixa aberto ao vento o livro, que naquele dia escolheste começar. Reinventa-te, em mim.



19 março, 2017

Outro Mar.

Há um mar depois de ti.
Um mar sem dimensão, que abraço em mim, eu sim, feita de imensidão.
Um mar que te conhece, que eu respiro, posso beijar, mergulhar, sair do tempo e com o vento, regressar.
Um tudo feito de fins, de horizontes irmãos, amantes, perfilhados nas ondas destemidas, dançantes, onde pairam as saudades adormecidas de outras vidas. Diamantes de luz e de calma, suspensos em ínfimos pormenores de nada, como sepulturas nesse mar salgado pelas lágrimas, em si perdidas, nele achadas.
Depois de ti, consigo ver um mar perto de mim, dentro, aqui, quase humano, feito de mãos e de olhares, que desafias para confiares. Um mar sem barreiras, feito de brisas do teu perfume, que sem ciúme, se aquieta em mim.
Um mar que deslumbra sem amedrontar, que é força crua que te abranda, te espicaça. Que é tua. Seiva salgada de revolta, de vazio profundo feito de estrelas, que se aprazem nas areias, pungentes de poeira viva, feita das almas roubadas das gentes, e extasiada nos nossos corpos rotineiros e mudos, entregues ao cheiro da maresia, poesia, de águas submersas de esperança num outro dia.
Depois de ti, encontrei um mar que já não se impõe. Um rei brando, um gigante que protege e que cuida, enquanto nos suga, para esse infinito futuro de possibilidades vãs. Um mar sereno, apaixonado, crente, que se avizinha de quem tem coragem de o olhar de frente, sem medos e sem marés, para lhes confiar o segredo da vida, tal pai feito de fé desmedida, que em seus braços embala o que de si ainda está por ser.
Um mar que não sendo eu, serás tu.
Ouse o mar ver teu filho em teus braços, sob a claridade das amendoeiras em flor.
Pois que nesse amor, depois de ti, haverá um só mar.

18 janeiro, 2017

Voo.

Atrasas-te. Desces as escadas a correr, ligas o motor, tu não podes morrer: apressa-se o pensamento, precipita-se contra o tempo e incendeia-se em dor. Foges. Rompes a madrugada fria, rasgas o vento, livras-te do sentimento, e aceleras. Vapor de água, névoa gelada, que se agarra e te transforma num nada que evapora: e te cega. Piloto automático. Depressa! O relógio não pára! Desvia, atalha, decifra. Esquece. Olha para o melro afoito, imponderado, coitado, que plana sob o embalo dessa brisa que flagelas comiserado, olha como finta o teu olhar vidrado, adormecido em sonhos afortunados, e tudo em ti vira criança e esperança. Olha como a curva se desfaz e se estende, em gritos de chapa, pânico de gente, nesse alvoroço em que embarcas clemente, confiante de que mergulhas nos olhos verdes que procuras, esses feitos de estrelas que impedem a noite de ser crua, e onde te deixas ficar: aninhada e segura, sob esse telhado de infinitude celeste, onde a solidão não se veste de prece: onde a tua casa são os olhos verdes que não te abandonam, os que ficam, os que te assombram, os que protegem e mantêm vivos, os sonhos que julgavas perdidos. Esses olhos verdes que cuidam, mas não compreendem. Estilhaços, éter, trovoada, e apenas mais uma madrugada. E silêncio. 

04 dezembro, 2016

Amanheces-me.

Nasces em cada madrugada, que flui em ti como água, que se esquiva e se atreve, a tecer em tons de prece, palavras tuas, sonhos do mundo. Revês-te no canto dos melros, que te fixam intrigados, entre as lágrimas de sol derramado, do manto azul terno de onde a lua, cega ilumina as pedras da tua rua, sob a luz febril de infinitas e reluzentes lamparinas celestes - Que te assolam e contornam nesse jeito de louco que vestes, contra hábitos roucos e presságios pungentes, sedentas de sombras, vazias de gente.

Inalas a atmosfera de cada alvorada como se feita de alma, ela se aconchegasse em ti. Abraças o tempo vagaroso, que desmanchas e realinhas contragosto, como a criança que não sente porque espera, e à vida dá sentido quando se inquieta, na neblina da manhã que espreita, trazendo no colo a fiança da prometida certeza. Abres os olhos e cantas. Conservas no peito o aroma salgado, de um café inacabado, enquanto fitas as tímidas ondas, que da estrela maior sagram, e clamam num pranto esperançado, sob o delicado lençol de ouro, impune e perdido, como sopro imenso e esquivo no negro frio das casas vazias. 

Guardas em ti cada sol nascido, repartido por quem te espera, quem te anseia, em cada madrugada perdida, que se vê renascida, sempre que os teus olhos se perdem nela.

06/11/16

09 outubro, 2016

"Há sempre uma razão, outro amor."


Hoje corro. Encaro o sol, marco passo. Danço e me desfaço, dos teus nós e dos meus laços que se enleiam, que se cravam, nesses pensamentos que se escapam entre anseios meus, tão somente meus. Peço ao meu coração que me persiga, que se adapte, que não desista, que nem cavalo que se instiga em trotes salgados, febris, dentro de um peito arrebatado, renitente, ou crente, como as ondas deste mar bailarinas, sábias das suas insígnias, enquanto mergulho o meu sopro no teu vento, e tento, guardar em mim o teu perfume, lume que vem de dentro e incendeias sem intento, nesse mar feito de ti. Mar onde me deito, num corpo esquecido, cansado, feito grito, que se ilumina e se adivinha, desde que certo dia, ouviu a tua voz.
Trazes a felicidade ao meu tempo, plena sobre asas de vento e raízes de vidro, num sabor de ousadia e perigo, quando em ti me reencontro. Passeias a euforia que me desdobra, como a andorinha deslumbrada de luz que traz a Primavera e adormece por entre a meiga dor, que lhe relembra a saudade das amendoeiras em flor. Ouvem-se sorrisos, cantam-se silêncios, perdoam-se as palavras vazias, e do meu peito no teu ombro, brotam-nos novos dias.
Sentir-te, é como viver ao pé do mar e não lhe poder sentir o cheiro. Esse teu cheiro a vida.

 "Só me encontro aqui, se te encontro em mim."

29 março, 2016

É um desejo universal. Uma certeza intrínseca. A de que seres tão complexos e tão melodiosamente desenhados não podem tão-somente deixar de existir num sopro destinado, num golpe de acaso, ou em qualquer espaço de tempo sempre demasiado pequeno para fazer jus a tão esplêndido e harmonioso ser. Apenas porque seria inacreditavelmente estranho que a nossa mente, a nossa tão viva mente, depois de tanto aprender, criar, projectar e assimilar, se desfizesse em pó, sem deixar uma prova, um qualquer rasto de luz de que esteve viva, de que pensou, sentiu, desanimou, acreditou. Teista ou ateu, a ideia de que ficamos depois de morrermos, algures a vaguear entre os que ficaram, é generalizada. E até aí, o egocentrismo do ser humano que fica, do que efectivamente vive, aflora-lhe à pele. Não basta toda uma cerimónia dedicada à dor e ao desembalo dos desafortunados que terão de continuar a viver, se não ainda o desejo de que o ser já morto perdure entre nós. E para quê? Não lhe bastará perder-se a si mesmo, para ainda ter que ser colocado na posição de espectador passivo, obrigado a encarar que o mundo continua a girar sem ele, como se não tivesse notado sequer a sua morte? Que as pessoas continuam a comer, a dormir, a trabalhar, a dançar, a chorar, a rir, exactamente como faziam antes de ele morrer. Querer que os nossos mortos fiquem, que zelem por nós, não é querer prolongar-lhes a vida, é querer prolongar o nosso afecto, o nosso rumo, as nossas esperanças. De que eles fiquem para nós, por nós. É um capricho do nosso ego que se espelharia, não numa bênção eterna, mas numa dor eterna. Um jogo a que a nossa esperança aplaude, claro está, sabedora de que o nosso próprio destino será também um dia nós próprios ficarmos eternizados nessa grande plateia. É esse o nosso desejo, vincado e obstinado, à deriva na ignorância do que desejamos.

24 dezembro, 2014

Porque "O Natal não é uma data. É um estado da mente"...

Eis o que eu penso.
Não se trata de fraqueza ou cedência. Não se trata de inferioridade ou subjugação. Não. Trata-se de ser mais rico, mais desperto, de viver com clareza de espírito, com a superioridade de quem, por fim, compreende e com a astúcia de quem é capaz de sentir a pele de todas as personagens a que assiste.
É preciso olhar para o melhor do outro, não para o pior. Realçar, aos nossos olhos, ao coração dele, o melhor, o mais humano. Ser o egoísta completo: que luta e exalta o que de melhor tem em si, mas também o que apreende do outro.
Podem chamar-lhe ingenuidade, mas garanto, é uma ingenuidade dirigida, afagada, e acima de tudo consciente.
Porquê insistir em focar no que não nos agrada, na diferença que não entendemos ou rejeitamos. Por que não avivar e enunciar em voz de quem fez uma grande descoberta, o que de genuíno e apaziguador retirámos daquele ser fechado? É preciso trazer aos olhos de todos, incluindo dele próprio, o que compensa trazer à vida – o que nos alimenta e compõe, não o que nos destrói e consome. Perceber a individualidade de cada um e o que dela está ao nosso alcance. Ser flexível, ser perspicaz. E perceber que onde há quem precise falar, tem que haver quem saiba ouvir. Onde há quem erre, é preciso quem esteja disposto a ajudar a corrigir. Que onde há quem não tolere, tem que haver quem saiba tolerar. Não é passividade, não é condescendência. É capacidade de adaptação. É respeito. É saber que no meio da diferença, estamos todos juntos no mesmo barco. É interiorizar que cada um é feito de histórias que conhecemos e desconhecemos. Que cada um de nós é feito de passado, de presente e de ambições. É perceber que ser humano é ser diferente. E tão igual.
Se não está nas nossas mãos mudar o outro, porquê agir como se dominássemos a razão, o certo e o errado e julgarmo-nos capazes de conjecturar um juízo final e irreversível? Não podemos mudar o outro, não temos que o compreender, que compactuar com a sua forma de pensar ou agir. Não temos. Temos sim que pegar nesse conhecimento e contorná-lo, ir ao encontro do que o outro tem e que, afinal, até somos capazes de citar e alimentar. É preciso fortalecer o que temos em comum, nem que seja apenas o propósito ou a circunstância. Não temos alternativa – é a união para o objectivo ou o descarrilamento total.

Vamos arrumar os insultos, os rumores, a frontalidade desprovida de ponderação que mancha (ainda) mais a alma de quem a encena, do que a do interlocutor perplexo que, por ingenuidade, ignorância, ou ele próprio cego pela rivalidade e hostilidade, é incapaz de entender e receber o que lhe é dirigido. Sejamos claros no que desejamos e cientes do que atraímos.

É preciso paz para sermos melhores e acompanhar-mos o outro no seu caminho para ser melhor. É preciso sermos melhores para termos paz. Experimentem. E não se esqueçam do motivo que nos une. 
Um Feliz Natal!

19 setembro, 2014

08.09

É preciso limpar Lisboa. É preciso, eu preciso. Arrancar a sujidade, a vaidade da boca do povo. Varrer as cinzas das manhas e dos aforismos. É preciso esfregar as nódoas dos descuidados e dos crédulos, as dedadas dos que mentem, prometem, enlouquecem. Varrer a poeira dos que não pensam, não deixam pensar, ousam pensar, ousam alentar. Dos que amam.
Eu preciso, é preciso. Lavar as paredes que não quiseram ouvir, polir o chão que o fogo entorpeceu, esbarrar contra os olhos de quem não se prendeu. É preciso desencardir as almas pisadas, limpar as lágrimas esbatidas nas janelas e nas escadas, banhar recantos e crenças, carpir passos e corações. É preciso, eu preciso. Apagar palavras, caiar mágoas, calar memórias, sufocar anseios, desdenhar compaixões. Rasgar as toalhas barrentas, os lençóis sofridos, sacudir de fés e expectativas os tapetes humedecidos e as cobranças encurraladas. Eu preciso, é preciso. Destruir o tempo, abafar a música, garrotar a dor. A dor. Dilacerar as cartas e despedaçar nós, esquecer dedos, perdoar mãos. Atear fogo às esperanças, aniquilar as coincidências, raspar os factos, aspirar as saídas e dissimular as soluções. É preciso arrastar os móveis, os laços, os embaraços, livrá-los dos medos e das paixões. É preciso, preciso. Fechar os olhos e esperar que Lisboa nasça sem sol, sem lua, nem ruas. Que Lisboa adormeça sem rio, sem luz, sem deus. É preciso que Lisboa viva sem sonhos. Respirar fundo e esperar não ouvir mais fados, nem os achados das noites não dormidas. É preciso cortar as amarras à força, esbater o castelo, correr as colinas, distorcer as esquinas e vendar as fotografias. É preciso perceber que nada faz sentido, nada tem um sentido, e que, o ter sentido, não é razão para o ser. É preciso parar de olhar para ti e fixar Lisboa como quem olha para amanhã. É preciso apagar-te a ti, aos teus ditos e aos teus gestos, e recomeçar Lisboa. É preciso limpar-te e recomeçar-me, enquanto assisto ao teu recomeço.
Recomeçar, reescrever. Não por ser preciso, mas por ter de ser.
N.G.


06 janeiro, 2013

Then it all went wrong.

        




"There was a time when love was blind.
And the world was a song.
And the song was exciting."
 

There was a time.

31 março, 2011

Se souberem de algum sentimento tão ruim, assim ao nível do que eu (ao que parece) mereço, mas menos destrutivo e incapacitante que o de inutilidade, agradeço que me digam. Porque a Primavera está aí e eu tenho mais que fazer.

30 março, 2011

Perfection.

Clara. Eu daria-lhe o nome de Clara. Porquê? Porque em toda a minha vida, curta, tão curta, sempre tive medo de seguir o passeio do outro lado da estrada, mesmo não tendo medo de atravessar a estrada. Sempre tive receio de andar sem olhar para o chão. De correr depressa demais. De pisar solo instável. Perigoso. Sujo. Sempre achei que tinha que tentar, sempre tentar, sem a genuína intenção de fazer. Fazer mesmo. Nunca nada foi límpido, fácil. Claro. Nunca nada foi transparente, nem mesmo com aqueles a quem eu entreguei toda a confiança que se pode, mas não se deve, entregar a alguém. Nem aí, nesses momentos de pura sinceridade, cumplicidade. Confiança. Confiei tanto, que não sei como consegui confiar tanto. Hoje não sei confiar tanto. Nem aí, tudo ficou claro. E foi aí que errei, errámos. Não me arrependo do que fiz, quando tinha idade para o fazer. Tinha a inocência da idade para o fazer. Dizer. E não deveria ter existido mais do que aquilo que existiu. Não era suposto ter existido mais. Não deviamos ter feito mais, mas deviamos ter dito mais. Mas isso sei-o hoje. Não sabia na altura. Na altura em que tudo deveria ter ficado claro. Porque nós precisamos que as coisas sejam claras. Não sabíamos, mas precisávamos que as nossas vidas fossem claras. Para que tivéssemos a certeza de que eram reais.


P.S. Finalmente deixei de ver novelas.

29 março, 2011


Antes preferia ser mesmo louca.
Ao menos não teria noção da minha loucura.

28 março, 2011

Eu sei, ninguém diria que tenho tanto para dizer.
E o pior é que vão continuar sem dizer.

27 março, 2011

"Se há sorte eu não sei, nunca vi."



Três domingos. Três semanas. Não sei se deva festejar, se lamentar. Não sei se me apetece assim tanto virar a página outra vez. Já viste o que fizeste? Amargura. Acho que nunca tinha escrito esta palavra aqui. Já viste o que me fizeste fazer? O que te vale é que o tempo fica sempre do lado de quem parte, não de quem vê partir. Tem tento nas palavras que tanto me tentam, meu amigo. Só mais um pouco.

26 março, 2011

Há noites dificeis.
Ele sabia disso.
E tu, sabes?

Let's dance!



Não acho a música inesquecivel, nem a letra brilhante, mas não sei... irrequieta-me, alegra-me, faz-me querer agir! E bolas, como me faz dançar! =D
Talvez seja também por esta capacidade de divertir os outros sem grandes ornamentações, que esta música (ou esta versão, sejamos sinceros) me tem ajudado a tornar os dias mais leves, e que hoje tenha feito questão de a ouvir logo de manhã, para entrar mais positiva neste dia insonso que teima em esconder o tão desejado sol.

24 março, 2011

Intervalo.

Talvez este desalinhar dos cabelos e esta fraqueza na voz não passem de um intervalo. Um intervalo como aqueles que inventaram – e nós aceitámos - na televisão, em que vimos repetidamente o mesmo anúncio, que por meios mais ou menos inocentes, nos tenta convencer de que é fácil a verdade. E nós olhamos, às vezes ouvimos, menos vezes recordamos, às vezes rimos até, outros desvalorizamos, mas ficamos. Mostramos desagrado com o tempo abusivo e descarado com que nos empurram publicidade viciosa, viciante, que nos obrigam a ver! dizemos nós ao vizinho do lado. Mas uma coisa é certa, ficamos. Não mudamos de canal. Porque aquilo que nos prende ali pode começar a qualquer momento.

(E porque no outro canal esperamos encontrar o mesmo intervalo, atulhado de pacotes coloridos e louvores, com a diferença de que não sabemos o que vai dar a seguir…)

Será caso para inspirar fundo, esperar que as horas passem e que, com um bocadinho de sorte, não deixem muita mossa.

Se ao menos eu não respirasse...

22 março, 2011

"Fica tão fácil entregar a alma..."

"... a quem nos traga um sopro do deserto."

Nada que um banho de água fria não resolva.
Ainda que tenha que ser todos os dias.

21 março, 2011

There you'll be.

Não acho que seja demasiado cedo para pensar nisso. Porque quando se deseja algo, que diferença nos faz desejá-la no hoje ou no depois de amanhã? Mais vale desejá-la hoje, enquanto sabemos que podemos desejar. Querer. E eu quero muito. Quero muito ver a minha idade a crescer. Quero muito mostrar a minha cabeleira branquinha e orgulhosa, enquanto faço das ruas da cidade o meu intento. Quero muito ter dezenas de rugas capazes de contar de que foi feita a minha história: quanta água salgada sentiram, quanta foi desperdiçada, quantos sorrisos foram fingidos, quantas gargalhadas libertadas, quantos raios de sol foram fintados. Quantas mágoas foram pintadas. Quero muito poder dizer que sei quase tudo sobre a vida.
Assim como quero muito ter alguém que me pergunte todas as manhãs se dormi bem e que, cambaleando tanto como eu, me ajude a descer as escadas empinadas pela idade, com a confiança de quem cuida, de quem partilha. Porque já nada mais ambiciona, se não rasgar a solidão e fazer do silêncio um abrigo, que só não mata quando é repartido.

18 março, 2011

Walk a mile in my shoes.

Dizia ele enquanto fitava o vazio, com a atenção de quem o quer atravessar, Ela não acredita no amor, logo, nem o dará, nem o saberá receber. Sem olhar para ele, por não saber de que eram feitas as amarras com que ele se prendia ao vazio que a separava dela, ela respondeu, Em compensação, é uma mulher de paixões. Com a naturalidade de quem não acredita no que não conhece, ele soltou uma gargalhada fria, derrotada, Ai sim? Mas ao que parece faz questão de salientar que não está apaixonada. Ela levantou-se do chão humedecido, caiado pela noite que não tinha descanso, e sentou-se ao lado dele, no banco frio do jardim onde ele permanecia preso ao vazio, desde que ela se lembrava, E não está. Ela é apaixonada. Já olhaste para a lua hoje? Como é possivel não o ser?

14 março, 2011


Lava o pensamento como quem mente. Engana a vontade como quem chora, só por chorar. Apaga as horas como se tivessem existido. Deixa de ouvir aquilo que não te dizem. Sê criança, e pára de te apaixonar. Uma e outra vez. Pára. Pára de pedir explicações a quem não as tem. Porque amanhã é outro dia. Outro dia.

09 março, 2011

"Se vieres, vou esperar-te à estação"

Escolhe a noite. Se vieres, não escolhas o dia, porque eu não sei ser – só ser – quando o dia é do sol. E de toda a gente. Quando o sol não deixa que eu te veja, e que tu me tentes ver. Escolhe a noite, quando vieres. Porque eu não saberei fingir, fugir. Não escolhas as palavras. Não insinues, não perguntes, não declares. Por favor, não jures. Não fales, porque eu não sei ouvir. E não sei falar. E tu não me saberás ouvir, quando eu não souber falar. Dizer. Não digas, quando prenderes os meus olhos nos teus. Não! Não queiras prender os meus olhos nos teus. Meus. Porque eu preciso de te ver. Continuar a ver. Segura a minha mão. Mas sem a prenderes na tua. Segura. Não a deixes cair. Tens agora a certeza?
E fica. Assim como eu sei ficar. Tu ainda não sabes, mas eu também sei ficar. Não escolhas o amanhã, não fiques no tarde demais. Não peses os riscos, as probabilidades, quando estamos assim, sós, inteiros, sem metades. Ainda sem metades. Não escolhas esperar que eu me aproxime mais, que diga que sim. Que diga prometo. Não escolhas esperar, porque eu não sou aquela que se aproxima quando quer mais. Tu não sabes, mas eu não sei ser mais. Sou só aquela que transforma um pacote de açúcar com uma frase bonita num achado valioso, só porque apareceu num lugar e num momento onde tu não estavas. Mas eu tinha-te lá. Sou só aquela que ainda não sabe ouvir música – só ouvir música – sem ver nela, permanentemente, ousadamente, uma saída. Uma forma de transmitir mensagens estagnadas. Estranguladas. Aflitas. Uma mensagem. A mensagem.
Um dia canto-te para tu teres a certeza. Ou talvez sejas tu a cantar. Talvez tenhas que ser tu a cantar, desta vez. Porque eu saberei ouvir. Tu não sabes, mas eu ouço-te. E tu cantas, sem saberes. Mas quando cantares escolhe a noite. Escolhe a noite, se quiseres ficar.

E gostares de ler também seria útil. Se calhar peço demasiado…
Um dia destes deixo-te o blog debaixo da porta.

05 março, 2011

Uma resposta justa para ambas teria sido qualquer coisa como:
O meu problema não são as crianças. São os adultos que as rodeiam.

27 fevereiro, 2011

Quanto mais alto o voo, maior o alcance da visão, mas menor a acuidade.
(E maior a queda, mas dessa já nem faço caso.)

Devíamos saber isso. E sabendo, devia-nos ser útil.

25 fevereiro, 2011

"Só o sonho fica"

E no final de tudo, ou no final do dia, porque a ambição e a incerteza são as mesmas, ninguém disse que era real. Ninguém falou, ninguém ouviu, ninguém mostrou. Ou apenas eu não ouvi e não vi, o que para mim vai dar ao mesmo. Não é egotismo, não é arrogância, assim como o facto de ter deixado de acreditar em palavras perfumadas e melosas não é presunção ou sumptuosidade; não é querer ser mais, não é pensar ser capaz de controlar o incontrolável. É apenas o único meio que tenho para explicar a ausência de factos, o vazio que persiste, insiste em persistir, entre os rumores e os actos, os ditos e os não ditos. É a minha forma de utilizar aquilo que ninguém disse, mas eu sei, como impulsor. O único caminho possível para explicar aquilo que não sei, mas que tenho que acreditar que sei. Chama-se a isto sobrevivência.

"Só ele pode ficar."