29 abril, 2008

Ligação

«Como o sol e a rosa», disse-nos ele, «Uma não vive sem a outra».
Lembrei-me desta frase no outro dia, quando pensava na intemporalidade das cicatrizes que nos amarram em portos de outrora, guardando promessas eternas, destinadas a ser aniquiladas. Resta saber por quem.
Mas o mais irónico, é o não haver surpresas face a esta destruição, tão descaradamente pré meditada. Há um lamento, mas um lamento resignado.
Uma realidade traçada que me esfumou a necessidade, oprimiu a vontade, e que, como se tivessem ganho vida, afastou-me os dedos do teclado, calando dentro de mim a súplica por uma palavra de coragem, renunciando o direito à amizade prometida.

07 abril, 2008

Fusão

Ruas imersas em saudade,
Badaladas de sinos distantes
Rumores de noticias velhas,
Olhares largados fumegantes…

De um fado soletrado
Nas janelas acorrentadas
Gélido fogo das horas que não passaram
Lágrimas vivas noutra vida me destinadas…

Gestos repetidos cuidadosamente.
Falas premeditadas, entre essas paredes frias,
Que desfalecem na vergonha e nas duvidas de quem desconfia
Ver explicado nas memórias futuras
Os traços que trazes gravados em tuas mãos inseguras,
Os desejos febris que prometes não revelar
A noite em que eu te espero entre os vultos de quem passa,
E tu insistes em não chegar.


Meu marinheiro que nega rumos
Vida que vem de ti, em arremessos de loucura e falta dela
Escolhes uma e a outra vida,
Na ânsia de fugir às garras dos acasos destinados a ser felizes.

Ousa o vento ver-te sorrir na minha ausência
Tenta-te o desejo por desertos consumados
Acolhe-te em seus braços, marés revoltas de liberdade
Ansiosa pelo dia da nossa revolução.


Pressinto a tua sombra por entre as árvores…
Como no sonho em que não eras tu.
Olho as águas, ansiosas por desvendar o teu reflexo.
Ouço já os teus passos pedindo desculpa pelo atraso.
Sei que vais dizer qualquer coisa sem sentido,
Que nem tu percebes porquê,
Mas eu quero ouvir-te.
Estás quase a chegar…
Sinto já o teu cheiro.
Não me vou virar, nem te vou chamar.
Tu sabes que eu estou aqui e que estou à tua espera.
Procuro-te nas águas, mas elas ainda não te vêem.
Não vai chegar, Canta-me a lua...

Não chegaste. Hoje, não vais chegar.

Ainda nem te conheço e já morro de ciúmes.