Um momento mágico. Minutos de pura inspiração, pelos quais toda a gente deveria passar pelo menos uma vez por dia, todos os dias. E a vida pareceria tão mais fácil...
É caso para dizer..." E que a Mafalda vos acompanhe!"
Bonita noite a de ontem =) Obrigada aos intervenientes ! =)
"Mesmo que a vida mude os nossos sentidos, E o mundo nos leve pra longe de nós, E que um dia o tempo pareça perdido, E tudo se desfaça num gesto só..."
O autocarro estava quase cheio. Um rapaz no banco da frente revirava-se de instante em instante tentando arranjar uma posição mais cómoda para dormir. A vários bancos atrás, um miúdo, talvez nos seus dois anos, abraçado à avó choramingava, chamando pelo irmão e pela mãe que tinha deixado para trás, onde ele já não estava. No banco imediatamente atrás, um homem, numa língua que não a delas, continuava o seu longo diálogo de intensas três horas (ou pelo menos para quem o ouvia). Conscientes e tranquilas, de auscultadores nos ouvidos, a Determinação e a Coragem, de decisões entrelaçadas e desenhos reflectidos, olhavam agora para a imensa Lisboa, disformemente matizada por milhares de pontos cintilantes disputando a atenção alheia, e que, levando o tempo necessário, se aproximavam a cada instante mal vivido, pacientemente: o autocarro deslocando-se sobre a ponte, de encontro a uma cidade viva; e uma cidade ansiosa por viver, mergulhando-se no rio de encontro a um tempo que já existiu. Uma lua dourada, pequena, cresce timidamente diante dos seus olhos, grandes. A música faz-se sentir e o momento acontece: na plenitude traída, a felicidade é cimentada, caiada: E aí, aí surge vida.
Chora. Chora tudo. Não guardes em ti, para ti, nem uma lágrima. Grita. Faz-te ouvir. Fá-los ouvir. Porque ninguém se importa realmente. Porque ninguém chorará contigo, em ti, por ti. Cada um chorará por si. Lamentará por si. Revolta-te. Revolta-te por chorares por eles, para eles, por ti, e sempre só para ti. E chora. Chora por teres que chorar, por ti, por eles. Faz entoar dentro de ti os ultimatos, as razões e as respostas: A culpa. Chora a culpa, que é só tua, por teres de chorar: Fraca. És fraca. Por isso é que choras. Não é por eles, nem por ti é. Esqueceste-te de porque choras. Ninguém irá ouvir. Fraca. Pára de chorar.
«Todas as manhãs me perguntava se tivera pesadelos e pedia-me que os contasse em pormenor, “porque falando neles perde-se-lhes o medo”.» (Isabel Allende)