30 maio, 2010

"Como toda a gente, só disponho de três meios para avaliar a existência humana: o estudo de nós próprios, o mais difícil e o mais perigoso, mas também o mais fecundo dos métodos; a observação dos homens, que na maior parte dos casos fazem tudo para nos esconder os seus segredos ou para nos convencer de que os têm; os livros, com os erros particulares de perspectiva que nascem entre as suas linhas."

Este parágrafo é retirado do livro de Marguerite Yourcenar, "Memórias de Adriano". Ainda só vou nas primeiras páginas e já tive o privilégio de saborear uma série de pequenos tesouros. Para quem gosta de ler, de pensar, mas acima de tudo, de crescer. Aconselho. =)


"Quando todos os cálculos complicados se revelam falsos, quando os próprios filósofos não têm mais nada a dizer-nos, é desculpável que nos voltemos para a chilreada fortuita dos pássaros ou para o longínquo contrapeso dos astros."

(Deve ser por isso que os meus passos levam-me tantas vezes ao Parque das Nações...!)

27 maio, 2010

Achados que me encantam.

"Agora danço arrependida,
Um passo em frente, dois atrás,
E quanto mais me rodopias,
Menos culpo a alegria
Da tristeza que me faz"
(Deolinda)





"I cannot cry because I know that’s weakness in your eyes."

24 maio, 2010

Efeito(s) de Estufa

Se não estivesse a sentir a minha pele a melindrar-se pela fervura já sem exalação a que a estava a submeter sem razões lógicas aparentes, diria-me capaz de não pensar.
Hoje julguei ver a tua sombra. Estava de costas, a despedir-se com um abraço de uma rapariga que já preparava as saudades que não iria ter. Ver a tua sombra já não deveria ser algo que me alarmasse, visto que até a ti te vejo volta e meia, a não ser que, num autocarro de 52 lugares, ela se viesse sentar precisamente ao meu lado.
Descalçou-se, arriou o encosto, sem olhar para quem quer que pudesse estar a esmagar no banco de trás, e abriu o livro de capa azul por ler que trazia na mão: “O Alquimista”.
Ainda mal tinha aberto a primeira página, já empenhava um lápis preto na mão, que de parágrafo em parágrafo lhe amparava o queixo pensativo. E depois sublinhava – ou riscava – alinhavando aquilo que eu não conseguia imaginar: talvez estivesse a sublinhar o futuro, ou então a dispor estacas na memória, por cada círculo que gizava à volta de cada número de página.
Compondo um esforço com o pescoço contrário ao do pensamento, tentava focar-me na paisagem sempre igual que o vidro que não via água há alguns dias me mostrava, como um ecrã provido de um único canal, o mesmo de sempre, mas naquele dia tão irrelevante. Se o ser humano tem como desculpar os seus erros apenas sendo-o, também deve ser (humanamente) normal querer saber sempre mais do que o que somos capazes de entender. Como tal, e não querendo alhear mais atenção que a que me é destinada, procuro através dos meus mais velozes desvios oculares, perscrutar o que de tão importante pode ditar aquele livro na vida de uma sombra. Mas não consigo ver nada. Ora o sol estonteante que se julga superior em tudo quanto é folha branca, ora uma posição mais confortável para ler que me tira as palavras assinaladas do campo visual.
Fazendo de conta que a indiferença existe, ajeito e desajeito o cabelo milhentas vezes (como se as sombras conseguissem ver, cheirar ou ter cheiro). O mp3, já de impulsor a descoberto pelo uso, condensa no tecto do autocarro toda a luz que o atordoa, conduzindo-a em movimentos rápidos numa dança improvisada, ou recordando alguma supergigante vermelha que ainda não saberia onde morrer, dando asas à imaginação que ainda há de ser, de uma menina loira, estrategicamente vestida de um branco que grita por presságio, que está sentada ao colo do pai.
No momento em que o autocarro abranda para começar a entrar em quarto decrescente, adivinhando-me distraída, o sol rega-me a vista e obriga-me a fazer mais que fechar os olhos: em jeito de negação, rodo a cabeça e, desejando mas sem querer, leio na contracapa do livro agora fechado: “Ouve o teu coração, porque onde ele estiver é onde estará o teu tesouro”.
E quando entre notas, noutra hora escritas em sintonia com o atrito da estrada, as pálpebras ousam dar descanso aos olhos desgastados, como se assim pudessem desviar o endereço do sol, a sombra da tua sombra aproxima-se, e eu quase que te ouço suspirar.
"Nobody knows the rhythm of my heart."

20 maio, 2010

Leves, cegos rumores,
Hastes penosas, desditosos mísseis.
Medos, Mentes, tremores,
Que nas suposições alteiam impossíveis.

19 maio, 2010

Devia ser proibido.












Animula vagula, blandula,
Hospes comesque corporis,
Quae nunc abibis in loca
Pallidula, rigida, nudula,
Nec, ut soles, dabis iocos…

P.Elius Hadrianus, Imp.

18 maio, 2010

" That I would be loved even when I numb myself
That I would be good even when I am overwhelmed
That I would be loved even when I was fuming"

09 maio, 2010

Aceleração

"The only way out is through"... e de que maneira (!)

Sinto-me maravilhosamente perdida. Formidável!

(E como se isso não fosse já motivo de alarme, a acompanhar o pânico e o sorrisinho estúpido permanente, ainda há músicas que ousam enumerar-se a si próprias e tocar em momentos impróprios, altamente fragilizados. Olé!)
(E só não ponho a dita cuja agora aqui porque tenho mais que fazer, tipo fingir que durmo.)
(Ok, eu calo-me.)
E viva o Benfica! =)

08 maio, 2010


Ai... O quanto me iria fazer bem uma futebolada destas à moda antiga!
(E viva o Portimonense! =D)


05 maio, 2010




Parafusos (acho que) tenho todos.
Um botão de reiniciar, seria pedir muito?

04 maio, 2010



Às vezes só precisava de alguém que, no meio das suspeitas quase evidentes, pudesse afirmar sem hesitar:
Ela não é assim.
Não é só isto.
É uma das primeiras coisas que nos ensinam. Demonstram-nos e corrigem-nos quando ousamos balbuciar mãe, pai, água, pão e, quase que com a mesma insistência (ou até importância) que há um lobo mau à espreita, um papão, um velho escondido algures, ou na melhor das hipóteses, um policia que nos vem buscar se nos portarmos mal ou não comermos a sopa. Como se a existência de um mau da fita fosse imprescindível para crescermos, para nos tornarmos pessoas.
E nós habituamo-nos, a cada dia, a cada idade, a procurar (já em modo obrigatório e irrefutável) esse lobo mau, apenas porque ele tem que existir.
Mesmo que ele não nos encontre, nós temos que procurá-lo, porque só assim poderemos ser pessoas melhores, só assim poderemos mostrar que somos capazes, fortes, de mostrar o que valemos e de ganhar a nossa recompensa (que será certamente mais do que um chocolate). Resta saber se nesta educação propagada, se instruem vítimas ou super-heróis.
Mas quem havemos de escolher? Um amigo que nos rouba o boné só porque é um miúdo de 6 anos, e os miúdos de 6 anos (alguns, espero) divertem-se quer a ouvir rir, quer a ouvir chorar. Os professores? Aquele professor, que até ensina bem e que até pode ter recebido o prémio Nobel da paz, mas que coitado, reúne de forma quase perfeita as características de um vilão exímio. Ou ainda os pais, que pelas circunstâncias proximais se tornam alvos tão vulneráveis, sendo nomeados por muitas amostras de gente como os criminosos pioneiros, capazes das maiores atrocidades, e que pela ligação emocional tão bem serão passíveis de serem reprimidos (olha que escolha tão conveniente!). O que não quer dizer que não haja um “quê” de razões viáveis nestas perseguições. Obviamente em qualquer teoria que envolva pessoas não há regras. Provavelmente só um mar excepções.
O pior é quando nos apercebemos de que essas nossas escolhas já não têm razão de ser (se é que algum dia tiveram) porque os nossos motivos, as nossas verdades, simplesmente mudaram. E aí vemo-nos desprovidos de armaduras e sacos de boxe, a consciência apodera-se de nós e obriga-nos a abandonar esse vilões tão bem desenhados, e a procurar outros, mas agora com um leque tão menos variado de hipóteses, que a imaginação atreve-se a ser solicitada como a principal ferramenta. Tão ousada chega a ser, que quando queremos controlá-la já não conseguimos, porque ela já se estabeleceu, já se erigiu por detrás dos nossos olhos. Quando queremos pensar já não conseguimos: porque já encontrámos, ou construímos, esse vilão dentro de nós. Apenas porque tem que haver sempre um lobo mau.
E desse já não podemos fugir. Ou podemos?