30 julho, 2010

Próxima paragem?

"Não importa: era preciso talvez esta solução de continuidade, esta quebra, esta noite da alma que tantos de nós experimentámos nessa época, cada um de sua maneira, e tantas vezes de forma bem mais trágica e mais definitiva que eu, para me obrigar a preencher, não somente a distância que me separava de Adriano, mas sobretudo aquela que me separava de mim própria."

"Em certos momentos, aliás pouco numerosos, sucedeu-me mesmo sentir que o imperador mentia. Era preciso então deixá-lo mentir, como todos nós."


O que fica deste livro?
A igualdade. O comum. A insignificância em que nos tornamos sempre que nos focamos no ideal e no individualismo.
É preciso deixarmos de confiar tanto no garantido amanhã e na nossa aparente imortalidade.
Não, não descobri isto agora. Mas ficou mais evidente. E espero que vá ficando cada vez mais.

Enfim... Venha o próximo livro!
(Para alguma coisa hão de servir as férias)
Sugestões?

25 julho, 2010

Ela e os botões

- Já passou por mim duas vezes.
- Ele viu-te?
- Não.
- Tu viste-o?
- Também não.
- Deixa lá, mais luas cheias hão-de vir.
- Bolas!...

21 julho, 2010

"You're simply the best"




"Don't you worry,
Hold on tight.
I Promise you
There will come a day,
Butterfly fly away."
=)






(Apeteceu-me ! ^^)

19 julho, 2010

Clam[destino

Aquele não era só mais um espectáculo. E apesar de ninguém lho ter dito, ela sabia que essa certeza não lhe pertencia de forma exclusiva. Há muito tempo que sonhava com aquele solo: mas há muito menos tempo que sabia que pelo menos um lugar da plateia ia estar preenchido.
Enquanto aguardava pelo grito sempre pontual do Sr. João, admirava o nervosismo transparente, quase tocável, que irradiava dos gestos das bailarinas principiantes que se precipitavam como um novelo apertado sobre a abertura do cenário, na procura de um rosto que lhes certificasse que estava ali para as ver – como se isso fosse tudo, ou como se isso devesse sequer ser importante. Mal sabiam elas que quando entrassem em palco não iriam ver mais face alguma, ou presenciar qualquer conversa inoportuna, entre os previsíveis estrupidos de espanto ou o timbre dos sorrisos quando se consentem; que não iriam sentir mais nada além do ritmo da música que dissimula a verdade e corrige a aparente loucura, dando nome e catadura aos movimentos crus, abrasados, que lhes percorrem o corpo e dão vida a cada poro. Não sabem ainda, que a beleza está no desfrutar do que a visão não enxerga, e que a fantasia está no poder ser só corpo – aquele corpo que o pensamento quebrantado, enrugado, consegue agora vislumbrar do alto do chão onde se deleita, lamentando os estragos irreversíveis a que predispusera o seu exímio portador. Não sabem ainda, que é nessa distância sem pecados que se libertam e se abraçam dentro de si mesmas, até que a ultima nota da orquestra se erga até à cobertura do auditório e se consuma num leque de palmas crescentes.
Enquanto mergulha as quase estreantes pontas brancas na caixa de pó de talco junto do palco, por instantes, quase aceita negociar com o desejo e esquecer-se do sonho por ser em que está prestes a embarcar, ao lembrar-se do dia em que lhe disse que gostaria de tê-lo lá, o mesmo dia em que ele disse que não iria faltar, o mesmo dia em que ela teve a certeza. A sua primeira certeza.
Ao chamamento do Sr. João, Clara entrou no palco. O vestido azul que envergava salientava a leveza com que corria até à sua posição, como se soubesse voar. Porque nesse dia ela podia voar. Olhando uma última vez para o público, pousando além do sorriso que transpunha o óbvio, pode ver todos os lugares preenchidos: todos, menos um. Quando Yann Tiersen começou a tocar, só ela e os seus passos improvisados, mas sempre mais do que sentidos, ficaram. Porque não havia ninguém para ouvir o que a música lhes trazia, explicava, prometia. E entre o era uma vez e a palavra não proferida, a sala ficou vazia.

17 julho, 2010

Ainda alguém tem dúvidas?

Deus escreve torto por linhas direitas.
Precipita os abortos que não se querem espontâneos.
Nega as pazes às mentes já desfeitas,
Em adormecidos e paralelos, flagelos coetâneos.

Haja alguém que corte as asas à esperança,
Na única poda que para ela se conheceu.
Só não Lhe convenha pagar à cobrança,
A velha aliança que sem saber prometeu:
Entre a razão e as páginas em branco,
De quem mais mãe que filha nasceu.

“Ainda bem que Lisboa não é a cidade perfeita.”
Ou então não...

09 julho, 2010

01 julho, 2010

E eu não quero o mesmo Retrato outra vez.

Só é dono da verdade,
Quem a sabe partilhar.
De que te serve um jardim de raras flores,
Se não as puderes colher (ou será libertar?)
Perdes o tempo que marinas em água doce,
No arrastado receio de o ver desembarcar;
Esqueces que o vento onde quer que sopra
Nunca é para ficar.

A certeza também se cansa,
Ora não fosse de ar o seu alimento;
Mas é por terra que quer dar termo:
Às frases incompletas que só desejam mais tormento,
Aos sonhos perdidos no “e se” do arrependimento,
Às fábulas que nos ditam imploráveis,
O endereço das paixões vulneráveis.

Só não suplico, porque nem pedir sei,
Mas uma coisa te digo,
Mais importante que a verdade, só a sinceridade de a saber viver.
Será, o que tiver que ser.