03 junho, 2008

VIII

Nada. Era tudo o que conseguia ver. Tento a custo levantar as penosas pálpebras, escancarar minhas janelas para o mundo, para que lancinantes me quebrem a escuridão que me preenche os olhos. Pestanejo sofregamente para recuperar a visão inexistente mas continuo sem enxergar nada. Numa atitude já desesperada, levo as mãos aos olhos e esfrego incessantemente na ânsia de os conseguir pôr em contacto com a luz, mas em vão. O único sinal de vida que os meus dedos encontram, são poças a transbordar de água salgada, de um fundo negro em cicatrizes de guerra sobre as mágoas sepultadas. Assustada, entro em pânico e começo a gritar. Mas não consigo ouvir a minha voz. Grito ainda mais alto e continuo sem me ouvir. Descontrolada e sentindo a consciência a fraquejar, tento erguer-me da cama mas não consigo. Levo as mãos às pernas para tentar movê-las mas não posso. Elas não estão lá. Sinto a cabeça em queda livre para o vazio que não acaba nunca, a respiração arquejante, o coração enlouquecido que reclama liberdade e cada poro inundado de água fervilhante. Jogo as trémulas e gélidas mãos em todas as direcções, tão longe quanto me é possível alcançar, palpando o ar, tocando o desconhecido, na esperança de te encontrar.
Subitamente, o mais terno e suave dos toques me envolve e afaga as mãos entre as suas, acarinhando-as e enleando-as irreversivelmente entre seus laços de certas incertezas. E no mais confiante dos abraços me deixo desfalecer.

Sem comentários: