04 novembro, 2009

Sopro

Sim, é contigo que estou a falar, não tenhas dúvidas, como sempre tens quando vens aqui, se é que vens aqui, porque tu não vens. Culpa minha. Menos um ponto para mim. Não gosto de pedir. Nunca gostei. Tu sabes. Tu sabias. Eras a única pessoa que sabia. Escrever é mais fácil do que falar. Tu sabes. Tu escreves. Eu leio. Continuo a ler sabias?
Conseguiste, não consigo confiar mais. E isso está a matar-me por dentro. Depressa. Porquê? Porque não se pode tirar às pessoas aquilo que de melhor têm. A única coisa em que acreditam. Ás vezes a minha vontade é fazer-te engolir cada uma das palavras, as únicas, que me fazem ter medo de olhar para cima e de ver o céu a cair sobre mim. As mesmas que me prendem, que me arrastam todos os dias, por cada dia que insisto em procurar uma razão, por mais longínqua e improvável que seja, uma razão, para poder continuar a acreditar que é tudo uma questão de tempo, que tu nunca mentiste, que eu nunca desisti, que a falta não foi só minha, que o tempo não muda o que é verdadeiro, por mais penoso e convincente que seja, que a eternidade existe, que a mente não é só poeira, que a confiança é inabalável e que eu posso continuar a deixar-te aqui, sempre. Tu não sabes. Eu até consigo acreditar que tu não saibas, mas, por favor, não sejas tão injusto. Injusto. Eu mudo o que está errado: eu risco, eu rasgo, este, sempre o mesmo, destinatário. Eu preciso aprender a culpar-me pelos meus prantos. Deixa-me ao menos esse gosto de ser infeliz por minha causa. Livre e infeliz só porque sou assim. Dá-me um fim para eu começar. Eu nunca comecei.
Sabes por que te digo isto tudo aqui e não na tua cara? Porque não sei falar e porque ao menos tenho uma certeza: se leres isto, é porque vens aqui, e se vens aqui então nem tudo é injusto e este texto faz todo o sentido; se não leres isto é porque não vens aqui, logo o texto não faz qualquer sentido e eu escuso de ter que admitir que me fazes falta. E de cair, outra vez.

E não era nada disto que eu vinha deixar aqui hoje, mas estou cansada de frases incompletas. E de não ter razão.

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