24 setembro, 2010

O frio tem destas coisas. E o pensar nele também.

Sair é fácil. Abandonar não custa. Dizer adeus é diferente. Implica dar a cara, dar a voz, inventar uma expressão que não pareça absurda. Ter a coragem de olhar para o lado ou a falta dela para olhar nos olhos. Para lá dos olhos. Dizer adeus é difícil. Acordar num dia de inverno é difícil. O querer não acordar, não ter que ver o dia nublado ou, na melhor das hipóteses, de chuva. Há quem diga que gosta de chuva. Eu também gosto de chuva. Quando não tenho que sair de casa. Quando estou na minha casa. Mas quando chove eu tenho sempre que sair de casa e nunca estou na minha casa. E depois lá vai ela, dividida avulsa de contornos assimétricos, entre aquela que enverga o tem que ser, em modo automático de manifestação, e a outra, a do nunca poderá ser. A última vai sempre guardada na mala, escondida das gentes – ou do céu nublado – espreitando de quando em vez com os olhos fechados, o ar húmido e triste das casas vazias de laços, que invariavelmente lhe chega aos ouvidos resistentes acompanhado do ruído do colchão da cama a ceder à passividade da desaceleração do ser, e da música a soar baixinho, indolente... O que nos vale é o chocolate. Como eu odeio o inverno.

1 comentário:

Chocolate disse...

Sem dúvida, o chocolate continuará a ser sempre aquela companhia para os dias menos bons ;)

Eu gosto da chuva para lavar a cara, e quem sabe algo mais (não, não é a roupa).

E não, inventar expressões e olhar nos olhos, não é fácil. Quem o disser estará concerteza a mentir descaradamente.

:)