Eis o que eu penso.
Não se trata de fraqueza ou cedência. Não se trata de inferioridade ou
subjugação. Não. Trata-se de ser mais rico, mais desperto, de viver com clareza
de espírito, com a superioridade de quem, por fim, compreende e com a astúcia
de quem é capaz de sentir a pele de todas as personagens a que assiste.
É preciso olhar para o melhor do outro, não para o pior. Realçar, aos
nossos olhos, ao coração dele, o melhor, o mais humano. Ser o egoísta completo:
que luta e exalta o que de melhor tem em si, mas também o que apreende do
outro.
Podem chamar-lhe ingenuidade, mas garanto, é uma ingenuidade dirigida, afagada,
e acima de tudo consciente.
Porquê insistir em focar no que não nos agrada, na diferença que não
entendemos ou rejeitamos. Por que não avivar e enunciar em voz de quem fez uma
grande descoberta, o que de genuíno e apaziguador retirámos daquele ser fechado?
É preciso trazer aos olhos de todos, incluindo dele próprio, o que compensa
trazer à vida – o que nos alimenta e compõe, não o que nos destrói e consome. Perceber
a individualidade de cada um e o que dela está ao nosso alcance. Ser flexível,
ser perspicaz. E perceber que onde há quem precise falar, tem que haver quem
saiba ouvir. Onde há quem erre, é preciso quem esteja disposto a ajudar a
corrigir. Que onde há quem não tolere, tem que haver quem saiba tolerar. Não é
passividade, não é condescendência. É capacidade de adaptação. É respeito. É
saber que no meio da diferença, estamos todos juntos no mesmo barco. É
interiorizar que cada um é feito de histórias que conhecemos e desconhecemos. Que
cada um de nós é feito de passado, de presente e de ambições. É perceber que
ser humano é ser diferente. E tão igual.
Se não está nas nossas mãos mudar o outro, porquê agir como se
dominássemos a razão, o certo e o errado e julgarmo-nos capazes de conjecturar
um juízo final e irreversível? Não podemos mudar o outro, não temos que o
compreender, que compactuar com a sua forma de pensar ou agir. Não temos. Temos
sim que pegar nesse conhecimento e contorná-lo, ir ao encontro do que o outro
tem e que, afinal, até somos capazes de citar e alimentar. É preciso fortalecer
o que temos em comum, nem que seja apenas o propósito ou a circunstância. Não
temos alternativa – é a união para o objectivo ou o descarrilamento total.
Vamos arrumar os insultos, os rumores, a frontalidade desprovida de
ponderação que mancha (ainda) mais a alma de quem a encena, do que a do
interlocutor perplexo que, por ingenuidade, ignorância, ou ele próprio cego
pela rivalidade e hostilidade, é incapaz de entender e receber o que lhe é
dirigido. Sejamos claros no que desejamos e cientes do que atraímos.
É preciso paz para sermos melhores e acompanhar-mos o outro no seu
caminho para ser melhor. É preciso sermos melhores para termos paz.
Experimentem. E não se esqueçam do motivo que nos une.
Um Feliz Natal!
Sem comentários:
Enviar um comentário