04 dezembro, 2016

Amanheces-me.

Nasces em cada madrugada, que flui em ti como água, que se esquiva e se atreve, a tecer em tons de prece, palavras tuas, sonhos do mundo. Revês-te no canto dos melros, que te fixam intrigados, entre as lágrimas de sol derramado, do manto azul terno de onde a lua, cega ilumina as pedras da tua rua, sob a luz febril de infinitas e reluzentes lamparinas celestes - Que te assolam e contornam nesse jeito de louco que vestes, contra hábitos roucos e presságios pungentes, sedentas de sombras, vazias de gente.

Inalas a atmosfera de cada alvorada como se feita de alma, ela se aconchegasse em ti. Abraças o tempo vagaroso, que desmanchas e realinhas contragosto, como a criança que não sente porque espera, e à vida dá sentido quando se inquieta, na neblina da manhã que espreita, trazendo no colo a fiança da prometida certeza. Abres os olhos e cantas. Conservas no peito o aroma salgado, de um café inacabado, enquanto fitas as tímidas ondas, que da estrela maior sagram, e clamam num pranto esperançado, sob o delicado lençol de ouro, impune e perdido, como sopro imenso e esquivo no negro frio das casas vazias. 

Guardas em ti cada sol nascido, repartido por quem te espera, quem te anseia, em cada madrugada perdida, que se vê renascida, sempre que os teus olhos se perdem nela.

06/11/16

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