19 março, 2017

Outro Mar.

Há um mar depois de ti.
Um mar sem dimensão, que abraço em mim, eu sim, feita de imensidão.
Um mar que te conhece, que eu respiro, posso beijar, mergulhar, sair do tempo e com o vento, regressar.
Um tudo feito de fins, de horizontes irmãos, amantes, perfilhados nas ondas destemidas, dançantes, onde pairam as saudades adormecidas de outras vidas. Diamantes de luz e de calma, suspensos em ínfimos pormenores de nada, como sepulturas nesse mar salgado pelas lágrimas, em si perdidas, nele achadas.
Depois de ti, consigo ver um mar perto de mim, dentro, aqui, quase humano, feito de mãos e de olhares, que desafias para confiares. Um mar sem barreiras, feito de brisas do teu perfume, que sem ciúme, se aquieta em mim.
Um mar que deslumbra sem amedrontar, que é força crua que te abranda, te espicaça. Que é tua. Seiva salgada de revolta, de vazio profundo feito de estrelas, que se aprazem nas areias, pungentes de poeira viva, feita das almas roubadas das gentes, e extasiada nos nossos corpos rotineiros e mudos, entregues ao cheiro da maresia, poesia, de águas submersas de esperança num outro dia.
Depois de ti, encontrei um mar que já não se impõe. Um rei brando, um gigante que protege e que cuida, enquanto nos suga, para esse infinito futuro de possibilidades vãs. Um mar sereno, apaixonado, crente, que se avizinha de quem tem coragem de o olhar de frente, sem medos e sem marés, para lhes confiar o segredo da vida, tal pai feito de fé desmedida, que em seus braços embala o que de si ainda está por ser.
Um mar que não sendo eu, serás tu.
Ouse o mar ver teu filho em teus braços, sob a claridade das amendoeiras em flor.
Pois que nesse amor, depois de ti, haverá um só mar.

Sem comentários: