Há um mar
depois de ti.
Um mar sem
dimensão, que abraço em mim, eu sim, feita de imensidão.
Um mar que
te conhece, que eu respiro, posso beijar, mergulhar, sair do tempo e com o
vento, regressar.
Um tudo
feito de fins, de horizontes irmãos, amantes, perfilhados nas ondas destemidas,
dançantes, onde pairam as saudades adormecidas de outras vidas. Diamantes de
luz e de calma, suspensos em ínfimos pormenores de nada, como sepulturas nesse
mar salgado pelas lágrimas, em si perdidas, nele achadas.
Depois de
ti, consigo ver um mar perto de mim, dentro, aqui, quase humano, feito de mãos
e de olhares, que desafias para confiares. Um mar sem barreiras, feito de
brisas do teu perfume, que sem ciúme, se aquieta em mim.
Um mar que
deslumbra sem amedrontar, que é força crua que te abranda, te espicaça. Que é
tua. Seiva salgada de revolta, de vazio profundo feito de estrelas, que se aprazem
nas areias, pungentes de poeira viva, feita das almas roubadas das gentes, e extasiada
nos nossos corpos rotineiros e mudos, entregues ao cheiro da
maresia, poesia, de águas submersas de esperança num outro dia.
Depois de
ti, encontrei um mar que já não se impõe. Um rei brando, um gigante que
protege e que cuida, enquanto nos suga, para esse infinito futuro de
possibilidades vãs. Um mar sereno, apaixonado, crente, que se avizinha de quem tem
coragem de o olhar de frente, sem medos e sem marés, para lhes confiar o
segredo da vida, tal pai feito de fé desmedida, que em seus braços embala o que
de si ainda está por ser.
Um mar que
não sendo eu, serás tu.
Ouse o mar
ver teu filho em teus braços, sob a claridade das amendoeiras em flor.
Pois que
nesse amor, depois de ti, haverá um só mar.
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